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1968: O maio que não passou em branco

  • Publicado: Quarta, 02 de Mai de 2018, 18h27
  • Última atualização em Quarta, 02 de Mai de 2018, 18h30

Exposição de fotos de Philippe Gras, que será aberta amanhã, registra conflitos na França

Jornal do Brasil
MÔNICA RIANIEste endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Consulado Geral da França no Rio de Janeiro e o Instituto Francês do Brasil promovem uma série de atividades referentes ao cinquentenário de Maio de 1968, tendo como parceiras instituições como a Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, a Pontifícia Universidade Católica (PUC), e a Sala Cecília Meireles. “O ponto de partida da programação é a frase icônica do movimento estudantil e social de maio de 68: ‘Il est interdit d’interdire!’ (É proibido proibir!)”, explica Alain Bourdon, conselheiro de Cooperação e Ação Cultural da Embaixada da França no Brasil e diretor do Instituto Francês do Brasil. As atividades incluem exposições, mostras de filmes, debates e concerto.

Bourdon explica a arquitetura da programação: “A ideia é termos uma visão da situação da censura e das proibições, 50 anos depois, em diversas áreas. As formas de censura se modificaram, mas ela continua a existir, daí o ponto de partida do nosso colóquio ‘A censura à prova do tempo’. Isto será ilustrado através de um olhar sobre as antigas e novas formas de censura: na era digital, nas artes plásticas e cênicas, como ela evoluiu no cinema e na imprensa”. Convidados franceses e brasileiros formam o elenco do encontro, que traz uma visão do ponto de vista histórico e também do mundo cultural.

Amanhã, dia 2 de maio, será aberta a exposição “No coração de maio de 68”, formada por 43 imagens do francês Philippe Gras (1942-2007), notório por manter uma carreira independente na fotografia e retratar o movimento estudantil e social na França. O documentário “Política: maio de 68, uma estranha primavera”, do cineasta francês Dominique Beaux, acompanha a exposição e será exibido no Cinemaison, no próximo dia 14 de maio, às 18h, depois dos filmes “A bientôt j’espère” (1968), de Chris Marker e Mario Marret, e “Maio de 68” (2008), de Patrick Rotman, selecionado para a edição deste ano do festival É Tudo Verdade.

A iniciativa se estenderá por vários estados. Haverá também ações culturais em São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Unidades da Aliança Francesa promoverão programas em suas 35 filiais, em cidades como Curitiba, Belém, Fortaleza, Salvador e Aracaju. 

 

Exposição de fotos de Philippe Gras, que será aberta amanhã, registra conflitos na França

 

Agenda tem filmes e concerto

O Cinemaison, que funciona na Maison de France, organiza quatro mostras de filmes para a ocasião (todas as segundas-feiras de maio e em duas terças-feiras). Na próxima quinta-feira acontece o ciclo “Censura, representações da mulher”, com presença de Pierre Chaintreuil, chefe do Departamento do Serviço de Vistos e Classificação do Centro Nacional de Cinema e de Imagens de Animação, na França. Um dos destaques será a exibição do filme “A comilança” (“La grande bouffe”, 1973), de Marco Ferreri.

Trata-se da produção franco-italiana, vencedora do Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cannes, que foi censurada pelo regime militar no Brasil e liberada para exibição apenas em 1979. O conteúdo provocativo fez com que o filme fosse probido em vários lugares.Traz Marcello Mastroianni, Michel Piccoli, Philippe Noiret e Ugo Tognazzi nos papeis de homens de meia-idade bem-sucedidos, que, movidos pelo tédio e hedonismo, se refugiam dentro de uma mansão para comer até morrer. Passada a primeira noite, decidem convidar mulheres para a farra, a corpulenta professora da escola local Andrea (Andréa Ferréol) e três prostitutas, somando a luxúria à gula. Sentados, em pé, deitados, em qualquer lugar da casa, eles comem e comem até a náusea. “A comilança” está programada para o dia 8, às 19h.

Na noite de sexta, haverá uma apresentação da Orquestra Sinfônica Cesgranrio, sob a regência do maestro Eder Paolozzi, interpretando canções  populares brasileiras e francesas, que fizeram sucesso em 1968. No palco da Sala Cecilia Meireles, a atriz e cantora Soraya Ravenle se une a Cynara e Cyva, do Quarteto em Cy, para um concerto roteirizado pela jornalista Luciana Medeiros. A ideia é relembrar canções do concorrido Festival Internacional da Canção de 1968, conhecido como “o festival dos festivais”. Imagens da época serão projetadas no telão. 

Outros artistas brasileiros darão seus testemunhos sobre Maio de 68 através de vídeos. Cynara e Cyva, com a irmã Cybele, já falecida, interpretaram “Sabiá”, canção de Chico Buarque de Holanda e Tom Jobim, que venceu o festival. Cyva estará no lugar de Cybele e também será homenageada. A cantora Soraya Ravenle interpretará canções importantes da música popular brasileira, como “Andança”, de Paulinho Tapajós, Edmundo Souto e Danilo Caymmi, na época interpretada por Beth Carvalho e os Golden Boys; “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré; “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso; “Saveiros”, de Dorival Caymmi e Nelson Motta, e “Domingo no parque”, de Gilberto Gil. A orquestra lembrará ainda algumas canções francesas ligadas ao movimento estudantil, que eclodiu nas ruas como “Ms.  Robinson”, de Simon & Garfunkel e “Hey Jude”, dos Beatles.

O evento “As canções de Maio de 68” será reservado a músicos e cantores profissionais. Por outro lado, o Consulado e o Instituto Francês , com o apoio da Aliança Francesa, organizarão um concurso de canções inspiradas na data e direcionado às escolas francófonas. Os candidatos poderão interpretar músicas famosas da época ou composições novas. Os finalistas se apresentarão na Aliança Francesa da Tijuca, no dia 8. 

 

A Orquestra Sinfônica Cesgranrio (acima), sob a regência do maestro Eder Paolozzi, recebe as cantoras Soraya Ravenle, Cyva e Cynara para reviver a histórica apresentação do Festival Internacional da Canção

 

Maio de 1968, 50 anos depois…

Romann Datus, adido de Cooperação e Ação Cultural e Diretor do Instituto Francês do Brasil no Rio de Janeiro, assina como curador o texto de apresentação do projeto, de que reproduzimos um trecho: “Maio de 68! A simples referencia à essa data traz à mente uma profusão de lembranças. Para muitos, Maio de 68 simboliza um momento marcante da Historia recente, representando um dos principais movimentos sociais franceses e a maior greve já organizada desde a Frente Popular de 1936. Naverdade, o movimento foi muito além das fronteiras francesas. Embora algumas pessoas guardem boas lembranças de Maio de 68, por ter sido o momento em que operários e estudantes se juntaram na França para manifestar suas reinvindicações, em outros países da Europa e no resto do mundo essa época traz recordações sombrias e de muita violência, principalmente na Itália e na Alemanha.

A noção da importância de maio de 68 varia segundo o posicionamento da pessoa, dependendo de se ela é a favor ou contra as questões levantadas, e também conforme o seu país, se estamos falando da França, da Alemanha, da Itália, da República Tcheca, dos Estados Unidos, do Brasil ou de qualquer outro país. Com toda essa complexidade, a ideia não é só contar detalhadamente o que aconteceu em Maio de 68.

Sem deixarmos de lado os aspectos sociais, econômicos e culturais do que foi Maio de 68 e quais foram as reinvindicações dos estudantes (que condenavam o imperialismo americano, criticavam a sociedade de consumo e as condições precárias de certas universidades, repudiando as normas mais estritas e dos operários (que apontavam sinais de retração da economia e reivindicavam uma maior igualdade na distribuição de renda), queremos analisar as consequências daquele mês de maio de 68.

Questionar significa que devemos considerar as grandes transformações que aconteceram de Maio de 68 até hoje, como a melhoria das condições de trabalho, a libertação da sociedade de com relação a conceitos ultrapassados, a liberação sexual, a abertura do diálogo entre professores e alunos, pais e filhos... Quando falamos de Maio de 68, não podemos pensar só na França dos anos 70, temos que considerar o alcance global do acontecimentos e ver o que restou daquela época, ainda que seja para chegarmos à conclusão de que certos problemas continuam existindo, lá a França e aqui no Brasil.

Para começar, sabemos que em 1968 o contexto na França era bem diferente do que acontecia no Brasil com a ditadura militar, a repressão e o decreto do AI5 do dia 13 de dezembro de 1968. O objetivo de promovermos esse intercâmbio de impressões entre a França e o Brasil é de lembrarmos o que representa Maio de 68 em nossos dois países, e principalmente qual o seu legado (...)".

Fonte: Mônica Riani, Jornal do Brasil, 01/05/2018

Disponível em: http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2018/05/01/1968-o-maio-que-nao-passou-em-branco/ 

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