Na época militante sindical e integrante das lutas de resistência democrática, ele foi preso dentro da fábrica onde trabalhava e mantido sequestrado nas câmaras de tortura do DOPS por mais de três meses, segundo Sebastião Neto, autor do livro “Investigação Operária: Empresários, Militares e Pelegos Contra os Trabalhadores”.
“Por volta das duas horas da tarde de oito de agosto de 1972, Plagge foi chamado para o escritório do diretor Ruy Luiz Giometti, onde já esperavam dois desconhecidos que o declararam preso. Levaram-no ao Dops, onde durante trinta dias foi duramente torturado, para depois ser transferido para o Presídio Tiradentes. Foi solto em seis de dezembro de 1972 e, dezesseis dias depois, em 22 de dezembro, recebeu a carta de demissão. Plagge nunca mais encontrou emprego fixo. Foi obrigado a viver de bicos até ser novamente preso, em dois de setembro de 1974. Dessa vez, precisou esperar mais tempo pela liberdade: até três de junho de 1975. No dia 23 de setembro de 2008, a Comissão de Anistia julgou que a demissão de 1972 teve “motivação política”, diz o livro “Empresas Alemãs no Brasil: o 7×1 na Economia”, do jornalista alemão Christian Russau.
A prisão de Plagge e a colaboração da empresa com o regime militar também são registradas no texto “A VW do Brasil Durante a Ditadura Militar Brasileira 1964-1985 – Uma Abordagem Histórica”, de Christpher Kopper, publicado no site corporativo da Volkswagen alemã (CLIQUE AQUI para ler o documento).
Em nota distribuída hoje, Neto, diretor do projeto IIEP (Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas), faz homenagem ao militante, que nasceu em cinco de fevereiro de 1939, e presta solidariedade à família, além de lembrar a trajetória heroica de Plagge na denúncia dos crimes da ditadura e do envolvimento de empresas, notadamente a Volkswagen, na repressão.
Publico a seguir trechos do texto de Neto:
“Companheir@s e camaradas perseguidos na Volkswagen, amig@s e apoiadores:
PERDEMOS HEINRICH PLAGGE
O militante, preso dentro da fábrica e mantido sequestrado por mais de três meses no DOPS, sofrendo torturas, se foi hoje.
Doente, empobrecido devido à perseguição que sofreu em toda sua vida profissional, manteve sua integridade, suas ideias e sua coerência. Profissional de alto nível técnico, tinha 12 anos de trabalho na Volks quando foi preso.
Conseguimos que fosse ouvido no inquérito aberto no MPF contra a Volks por graves violações de direitos humanos. Mesmo bem doente, deu um depoimento devastador.
Somamos nossa dor à de sua família, que dele cuidou e o acarinhou. Sua história deve ser conhecida para impedir “a memória desbotada das novas gerações “.
Seria importante que os atuais trabalhadores da Volks pudessem saber que muitos dos benefícios e condições que gozam hoje foram frutos das lutas de camaradas como Heinrich.”
No final do ano passado, a “Isto É Dinheiro” publicou uma série de pequenos vídeos sobre o caso. Em um deles, aparece o depoimento de Plagge, assim como comentários feitos pela empresa: Morre o operário HEINRICH PLAGGE, que foi entregue pela VW à ditadura militar: https://www.youtube.com/watch?v=xTTrchnAusg
Fonte: Transversal do Tempo, 06/03/2018, por Rodolfo Lucena
Disponível em: http://tutameia.jor.br/morre-o-metalurgico-heinrich-plagge-que-foi-entregue-pela-vw-a-ditadura-militar/
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