"O Olhar", serigrafia sobre papel de 1967, 68 cm x 95 cm.
Crédito: divulgação
Claudio Tozzi volta a fazer uma exposição individual em São Paulo. A exposição, Emblema da Cultura Brasileira – Retrospectiva da Obra Gráfica, com uma visão panorâmica da obra gráfica do artista nos últimos 50 anos, acontece na CAIXA Cultural São Paulo, com abertura em 13 de Março, terça-feira, às 19 horas, e visitação até 20 de Maio.
Com curadoria de Manuel Neves, a mostra reúne 93 obras produzidas entre 1968 e 2018 – é a mais completa exposição já realizada sobre a produção gráfica de Claudio Tozzi. Nela pode-se perceber que o artista apresenta soluções técnicas coerentes com cada fase de sua produção pictórica, com utilização de variados processos de reprodução gráfica: serigrafia, xerox, litografia, gravura em metal, zinc offset e digitografia.
Existe na produção de Tozzi uma absoluta coerência de linguagem entre sua pintura e o meio de reprodução utilizado em cada fase. Assim, as cores chapadas dos astronautas e multidões da década de 60 são reproduzidas pelo processo de serigrafia. Os parafusos, mais simbólicos e contidos, exigem técnica mais intimista, a gravura em metal.
A produção mais recente de Tozzi exige técnicas e superposições de retículas gráficas, que permitem ao espectador uma percepção mais ampla da forma e da cor através da somatória ótica de retículas com variações de seus matizes.
As imagens reunidas na exposição englobam toda a produção de Claudio Tozzi, em suas diversas fases: multidões, bandido da luz vermelha, astronautas, parafusos, cor pigmento luz, recortes e territórios – esta última, a fase mais recente.
Emblema da Cultura Brasileira é resultado de uma pesquisa do curador e historiador Manuel Neves, realizada na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, trabalho que investigou a produção da arte brasileira na segunda metade da década de 1960, na qual a obra de Claudio Tozzi ocupa destacado lugar.
A pesquisa tem o título "Image Pop: Pop art presence et négation dans l’art brésilien des années soixante". Em idioma francês, foi editada na Europa pela Éditions Universitaires Européennes, Sarrebruck. Não está ainda publicada no Brasil.
Coerência formal e discursiva – Texto do curador Manuel Neves no catálogo da exposição:
Surgido na convulsionada década dos 60, Claudio Tozzi é um artista fundamental na cena contemporânea brasileira. Sua obra, como a dos artistas mais importantes de sua geração, articula uma mudança radical no estatuto da imagem artística, tomando e reprogramando os modelos visuais projetados pelos meios de comunicação e a indústria do espetáculo, para produzir uma obra figurativa, chamada genericamente no mundo anglo-saxão de pop art.
Estas obras procuram, em sua estratégia formal, ser um reflexo do contexto social e político, dramático e convulsionado vivido pelo artista em meados dos anos 60, de começo da ditadura militar.
Este momento se traduziu numa perda das liberdades fundamentais, e na consequente violenta política de censura posta em prática em todos os âmbitos da cultura e da educação.
Assim, o jovem artista, reprogramando tanto a imagem dos meios de comunicação, como na estética pop de circulação internacional, produz uma obra de grande impacto visual, que projeta imagens dos protestos políticos e dos problemas sociais, nas séries fundamentais das Multidões e do Bandido da luz vermelha, e as imagens idealizadas dos avanços científicos promovidos pelos países centrais, como a série dos Astronautas.
Na década dos 70 sua obra processa uma reflexão conceitual radical que por um lado tentou mostrar essa realidade social e política, articulando uma estratégia visual com um forte caráter metafórico e também uma sedução estética que pudesse evitar a censura prevalecente na ditadura mas sem perder um discurso crítico e reflexivo desse dramático momento social e político. Nesse sentido, será emblemática a série dos Parafusos, e também a série de obras apresentadas na Bienal de Veneza em 1976.
Posteriormente, durante as décadas dos 80 e 90, o artista realizou uma investigação formal, onde pesquisou as imagens que sintetizavam a cultura brasileira, assim como reformulou o legado da geração de artistas concretos.
Serão importantes nesse momento as representações sobre a urbe de São Paulo, que refletiram as mudanças radicais produzidas em nível urbano na cidade durante esse período, como as obras pensadas para se realizar a nível urbano, em prédios, avenidas ou estações de metrô.
Nas últimas décadas, o artista continua pesquisando o legado concreto, mas refletindo seu impacto a partir da perspectiva do designer, produzindo obras onde não podemos reconhecer os limites entre pintura, objetos e escultura.
A obra produzida por Claudio Tozzi em mais de cinco décadas, que se desenvolve em pintura, escultura e mural, teve igual e complexo desenvolvimento na produção gráfica. Emblema da cultura brasileira reúne mais de noventa obras, produzidas com as mais diferentes técnicas reprodução gráfica, como serigrafia, litografia, gravura em metal e xerox, sendo a exposição mais completa realizada até o momento sobre a produção gráfica do artista.
Este corpus de obras não só demonstra a coerência formal e discursiva desenvolvida por Claudio Tozzi durante mais de cinquenta anos de labor na gráfica. Demonstra também como a edição gráfica foi uma ferramenta fundamental de investigação e experimentação formal e, ao mesmo tempo, uma reflexão política sobre o espaço da arte na sociedade atual e seus mecanismos de distribuição, dentro de uma consciência permanente do artista da importância da popularização da arte, como da ampliação constante de seu público.
O artista – Nascido em 1944, o paulistano Claudio Tozzi estudou no Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (1956 a 1962) e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1964 a 1969), onde trabalha como professor.
Iniciou seu percurso de artista no começo da década de 60, através da apropriação de objetos, imagens de jornais, história em quadrinhos e fotografias associadas a conotações simbólicas de conteúdo social. Em 1967, seu painel Guevara, Vivo ou morto…, exposto no Salão Nacional de Arte Contemporânea, é destruído a machadadas por um grupo radical de extrema direita, sendo posteriormente restaurado pelo artista. Tozzi viaja a estudos para a Europa em 1969. A partir dessa data, seus trabalhos revelam uma maior preocupação com a elaboração formal.
Na década dos 70 cria em sua pintura uma sintaxe através da construção de uma trama de retículas e granulações cromáticas, que resultam em estruturas e espaços de intensos significados simbólicos. É um processo mais cerebral e perceptivo, que emocional e expressivo, do qual a essência é o conceito, a estrutura e a construção do espaço da pintura.
A partir da década de 80, até as obras mais recentes, intensifica sua preocupação formal e passa a trabalhar com elementos estruturais básicos: linhas, planos, cores, formas orgânicas, matérias; que criam analogias formais com imagens preexistentes e ampliam seu caráter construtivo.
Em seu processo metódico e objetivo, Claudio Tozzi utiliza ícones visuais – parafusos, escadas, fragmentos de objetos, símbolos tropicais, espaços urbanos etc. – e os desconstrói, captando seus aspectos essenciais, revelando-se, desta forma, artista de elevado rigor formal, cuja obra transita por vertentes construtivas e conceituais.
Serviço – A CAIXA Cultural São Paulo fica na Praça da Sé 111, Centro (Estação Sé do Metrô), tel. 3321-4400.
A exposição Emblema da Cultura Brasileira – Retrospectiva da obra gráfica, de Claudio Tozzi, tem abertura em 13 de Março de 2018, das 19 às 21 horas.
Visitação até 20 de Maio de 2018 – de terça a domingo, das 9 às 19 horas.
Ingressos: ENTRADA FRANCA.
Classificação etária: Livre.
Patrocínio: Caixa Econômica Federal.
Mais informações pelo telefone 3321-4400.
Fonte: ABC do ABC, 02/03/2018
Disponível: http://www.abcdoabc.com.br/abc/noticia/exposicao-emblema-cultura-brasileira-caixa-cultural-sao-paulo-61850
Redes Sociais