‘Vida inteira aguardando a verdade’, diz filho de torturado na ditadura identificado por ossada
Filho mora em Votuporanga (SP) e doou DNA para exames. Identificação de vítima da ditadura militar dos anos 1970 foi feita na Bósnia.
A família do paulista Dimas Antônio Casemiro, que teve a ossada identificada neste mês, quase 50 anos depois dele ter sido torturado e morto pela ditadura militar em 1971, se diz aliviada com o reconhecimento dos restos mortais.
A identificação foi feita por um laboratório na Bósnia, para onde os restos mortais tinham sido enviados em setembro do ano passado.
O filho de Dimas, Fabiano César Casemiro, que mora em Votuporanga (SP), diz que ele e o tio foram convidados para colher material genético que seria usado para tentar identificar uma das ossadas encontradas entre as mais de mil localizadas em 1990 na vala clandestina de Perus, em São Paulo.
“JÁ FAZ ALGUM TEMPO, OS FAMILIARES MAIS PRÓXIMOS FORAM CONVIDADOS PARA IR A SÃO PAULO PARA IREM TIRAR O DNA. É UMA VIDA INTEIRA AGUARDANDO A VERDADE. AGORA É UMA SURPRESA, PELA CONDIÇÃO DO TRABALHO QUE FOI FEITO, UMA SURPRESA POSITIVA”, AFIRMA.
A ossada do desaparecido político Dimas Antonio Casemiro é a quarta identificação desde o descobrimento dos restos mortais, mas a primeira do trabalho realizado pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos do governo federal, em 2014.
Fabiano explica que sempre se reúne com outros familiares na mesma situação e, que, apesar do sofrimento, todos esperam que as ossadas sejam identificadas.
“Quando a gente se reunia com outros familiares, víamos o sofrimento, mas tínhamos esperança. Sinto um sortudo por ter acontecido isso (a identificação), mas fico apreensivo com outras pessoas que não conseguiram e me solidarizo com ela”, afirma.
O filho diz que o desejo é trazer a ossada para junto ao corpo do irmão, que está enterrado em Votuporanga (SP). Apesar da vontade, ainda não tem data para isso acontecer.
“ENCERRA UM CAPÍTULO DA HISTÓRIA TRAZENDO ESSA OSSADA PARA VOTUPORANGA, É UMA MISTURA DE ALÍVIO COM OUTROS SENTIMENTOS QUE NÃO SEI EXPLICAR. É UMA HISTÓRIA QUE NÃO PODE SER ESQUECIDA PARA NÃO SER REVIVIDA”, CONTA.
Grupo de Trabalho de Perus
O Grupo de Trabalhos de Perus recebeu as amostras após as ossadas passarem por duas universidades.
O GTP começou os trabalhos após uma cooperação firmada entre as secretarias de Direitos Humanos dos governos federal e municipal, junto com a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, e a Unifesp. O grupo analisa 1.047 caixas com ossadas retiradas de Perus.
Em setembro de 2017, as ossadas foram enviadas para o International Commission on Missing Persons (ICMP), laboratório bósnio escolhido porque tem experiência com a análise de mais de 20 mil casos de identificação humana no conflito da ex-Iugoslávia.
Na ocasião, foram enviados fragmentos de ossos, dentes e amostras de sangue de familiares referentes a 100 indivíduos que mais se enquadram nas características dos 41 desaparecidos políticos.
Acredita-se que, além de mortos pela ditadura, entre as ossadas encontradas na vala de Perus também há pessoas mortas em chacinas e por grupos de extermínio, que depois esconderam os corpos.
O grupo de trabalho é composto por peritos oficiais, professores universitários e por consultores nacionais e estrangeiros. Segundo o coordenador Samuel, “compondo uma equipe multidisciplinar nas áreas de medicina legal, antropologia forense, genética forense, odontologia legal, arqueologia, biologia e história”.
Fonte: Bom Dia, 21/02/2018
Disponível: http://grupobomdia.com.br/vida-inteira-aguardando-a-verdade-diz-filho-de-torturado-na-ditadura-identificado-por-ossada/
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