Por Fritz Nunes / Sedufsm
A Comissão da Verdade da UFSM, instalada em junho de 2015, encaminha-se para a parte final dos trabalhos. Até a metade do ano deverão ocorrer os últimos depoimentos e também a análise dos documentos do Arquivo Nacional, e que registram a atuação dos órgãos de espionagem dos governos militares. O relatório final tem previsão de ser entregue entre os meses de agosto e setembro de 2018.
Conforme a presidente em exercício da Comissão, Glaucia Konrad, professora lotada no departamento de Documentação da universidade, estão previstos ainda mais três depoimentos até o fim dos trabalhos: Tarso Genro (ex-governador); Eliezer Pacheco (professor e ex-dirigente do Cpers) e Estilac Xavier (ex-deputado). Já ocorreram oito depoimentos à comissão até o momento. Segundo a docente, também não se descarta a ida a Brasília, até o Arquivo Nacional, tendo em vista que o material que veio de lá para a Comissão, apesar de importante para o trabalho, não está completo.
Glaucia relata que o acervo proveniente do Arquivo Nacional é resultante do recolhimento de diversos tipos de informações compartilhadas entre os órgãos que compunham o sistema de informações da ditadura vigente entre 1964 e 1985: Marinha, Aeronáutica, Exército, Serviço Nacional de Informações (SNI) e Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). No caso da universidade, as informações eram colhidas através da Assessoria de Segurança e Informação (ASI), que funcionava próxima ao gabinete do reitor da instituição, e depois compartilhada com os órgãos federais.
Atuação sindical e participação em congressos
Em relação ao conteúdo da documentação obtida em Brasília, e que chegou à UFSM em outubro passado, Glaucia explica que, em geral, eram registradas as atuações de professores e técnicos em organizações associativas de caráter sindical; eram investigados os convidados para palestras e também a trajetória dos professores candidatos a serem contratados pela instituição; eram monitoradas as participações de estudantes em atividades congressuais, como o Congresso da UNE.
Conforme a representante da Comissão da Verdade, a maior quantidade de documentos se refere ao período da chamada abertura democrática (pós-1979). Isso se deve ao fato de que é nesse período que ocorre maior efervescência no ambiente universitário. Existem poucos registros do período 1964-1968 em virtude de que nessa época ainda não tinham sido criadas as ASIs nas universidades.
Eleição em Diretório Acadêmico (DA)
Apesar de não terem sido encontrados os documentos oficiais da ASI na UFSM, Glaucia comenta que foi montada uma subcomissão, integrada por alunos do curso de História e de Arquivologia, que está realizando um trabalho minucioso junto aos arquivos da instituição. E é dessa pesquisa que estão sendo recuperados alguns documentos que remetem ao trabalho do serviço de informações. Através dessa coleta, descobriu-se um caso interessante: três estudantes que foram investigados pela Assessoria de Segurança e Informação por não participarem de uma eleição de diretório acadêmico.
Dois desses acadêmicos apresentaram licença médica para justificar a ausência no dia da votação. O que não apresentou justificativa chegou a ser ameaçado de expulsão da universidade. Segundo a professora, era comum não apenas cobrar a participação dos alunos nesses processos, como também procurar saber em quem votaram. O que precisa ser melhor pesquisado, explica Glaucia, é o que embasava essa conduta de perseguir alunos por esse tipo de motivação. Possivelmente houvesse algum código de ética estabelecido pelo MEC à época.
A integrante da Comissão da Verdade destaca que a gestão da UFSM atendeu uma solicitação do grupo e orientou que durante a realização do trabalho da Comissão não sejam descartados documentos do acervo da UFSM. Uma outra iniciativa do grupo é promover a junção de trabalhos, em todas as áreas, que versam sobre o período da ditadura militar, pois esses podem ser importante material de contribuição ao relatório da Comissão.
Depoimentos
Glaucia Konrad ressalta que os depoimentos de Tarso Genro, Eliezer Pacheco e Estilac Xavier, poderão ocorrer em Santa Maria ou, dependendo, a um grupo que se desloque até Porto Alegre, onde residem os depoentes. A iniciativa de ouvi-los, conforme a professora, se deve a terem sido citados em diversos dos depoimentos que foram colhidos, além de serem referidos em documentos pesquisados. A Comissão tentou obter o depoimento de alguns ex-membros da ASI, no caso, militares da reserva, mas esses alegaram problemas de saúde para não serem ouvidos.
Publicado por: Claudemir Pereira
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