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Historiador desenvolve pesquisa sobre genocídio de indígenas na Ditadura Militar

  • Publicado: Segunda, 11 de Dezembro de 2017, 17h36
  • Última atualização em Segunda, 11 de Dezembro de 2017, 17h38

Aprovado no mestrado da UFF, no Rio de Janeiro, Breno Tommasi veio para Manaus apurar o que os militares tornavam público sobre os índios no período

Por Amanda Guimarães, de Manaus, em A Crítica

Crimes contra indígenas cometidos por latifundiários e funcionários do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI) na Ditadura Militar (1964-1985) foram apurados e registrados no Relatório Figueiredo. O documento ficou desaparecido durante 45 anos após ressurgir quase intacto em abril de 2013, no Museu do Índio, no Rio de Janeiro. Atualmente, o relatório foi utilizado como objeto de estudo pelo historiador, Breno Tommasi, de 22 anos, no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e agora pesquisa de Mestrado.

O historiador é carioca, mas veio apurar em Manaus o comportamento dos militares nos anos da ditadura militar. Ele quer descobrir como a imagem do índio estava sendo apresentada para a sociedade. O Estado do Amazonas também entra no estudo.

“O Relatório Figueiredo narra crimes contra indígenas em todo o Brasil. O Amazonas não é deixado de fora nesta lista. Agora vou pesquisar o que os militares tornavam público sobre os índios na ditadura. Como a Amazônia era vista na perspectiva dos militares, em relação aos índios. Vou analisar peças publicitárias que eram apresentadas no intervalo de programas de TV, por exemplo”, contou.

 

Durante a pesquisa de Mestrado no curso de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), o historiador contou que analisará os jornais tradicionais da cidade para saber a atuação da imprensa no contexto de divulgação de notícias sobre os povos indígenas.

“Neste momento de pesquisa, a imprensa vai ser importante, porque ela repercute tudo que o Governo divulga. Mas as minhas fontes principais no mestrado serão as peças publicitárias, cartazes, entre outros”, comentou.

Início da tese

Breno se formou pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com a tese de que a Ditadura Militar no Brasil foi civil-militar. Isto significa que o historiador defende a participação de parte da população nas ações lideradas pelos militares na época do governo autoritário.

 

“Penso de outra forma, junto com um grupo de pesquisadores, a ditadura militar no Brasil. Eu penso no regime como uma ditadura civil-militar e o meu trabalho comprova essa teoria. Fiz pesquisa sobre o Relatório Figueiredo, redescoberto em 2013, quando se acreditava que ele havia sido perdido durante um incêndio no Ministério da Agricultura”, explicou.

Segundo o historiador, o Relatório Figueiredo foi produzido por uma comissão de inquérito que investigou crimes contra indígenas praticados por funcionários do Serviços de Proteção aos Índios (SPI) no Brasil.

“Esta comissão apurou que funcionários civis e militares compactuavam os crimes contra os índios praticados por latifundiários, grilheiros e seringueiros. Estamos defendendo essa tese no Rio de Janeiro, que não só a ditadura, mas o golpe de 1964, tiveram apoio de parte da sociedade. É muito difícil a gente pensar em uma ditadura que ficou 20 anos no Brasil sem apoio por alguma parte da sociedade”, ressaltou.

Ditadura e imprensa

O objetivo do trabalho de Breno era apresentar o primeiro momento de engrenagem da ditadura militar dentro da perspectiva dos índios. A ideia de produzir uma pesquisa com a temática surgiu depois do historiador estudar sobre movimentos militares na primeira república e movimentos tenentistas.

“O meu objetivo era entender o momento de engrenagem da ditadura militar. A gente fala muito de acordo com a memória coletiva. Defendemos que todos os problemas aconteceram por conta dos militares. É obvio que eles têm uma participação nos crimes, mas a sociedade não viu esse momento calada ou de forma integral. Quando se falava em proteger o indígena na ditadura militar estavam pensando em como se apropriar das terras e dos bens dos povos”, apontou o historiador.

Parte da pesquisa de Breno também aponta para a cobertura na imprensa dos casos de genocídio envolvendo indígenas no regime autoritário. Ele destaca que os veículos de comunicação tradicionais da época noticiavam sobre o ocorrido, mas focavam em assuntos relacionados a corrupção.

 

“Nesse sentido, o resultado da pesquisa foi positivo. Tenho conversado com pesquisadores e historiadores, mas todos eles concordaram que consegui chegar ao meu objetivo. Consegui demonstrar que existia uma articulação entre os militares e a sociedade comum nos crimes contra os índios. Me questionei sobre a cobertura da imprensa nesse contexto e encontrei várias publicações da época. Algumas notícias pediam que os casos fossem solucionados. A imprensa lutou contra os crimes, mas focando na corrupção”, afirmou.

 

Contribuição na área

O historiador também afirma que o assunto de genocídio contra indígenas na ditadura militar é pouco tratado na sociedade e pelos veículos de comunicação. “Acredito que o meu trabalho nesse sentido tende a dar visibilidade sobre esse questão. Na minha opinião, é um dos assuntos mais importante do Brasil atualmente pela agenda política que vem sendo discutida”, completou.

Relatório

O Relatório Figueiredo é um documento de mais de sete mil páginas produzido pelo procurador federal Jáder Figueiredo entre 1967 e 1968 a pedido do extinto Ministério do Interior. O trabalho mostra a corrupção endêmica, os métodos de tortura e escravização e a exploração do patrimônio indígena por funcionários do extinto SPI – órgão antecessor à Fundação Nacional do Índio (Funai).

Fonte: A Crítica, 08/12/2017

Disponível: http://www.acritica.com/channels/cotidiano/news/historiador-desenvolve-pesquisa-sobre-genocidio-de-indigenas-na-ditadura-militar

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