Puc relembra os 40 anos de invasão militar no campus de Perdizes
Por: Clara Peduto – Fala! PUC
No dia 19 de setembro, numa terça-feira, foi realizada na PUC-SP uma palestra que abordava temas relacionados à ditadura militar no Brasil, entre eles a Censura, Imprensa e o Estado de Exceção.
O evento foi realizado pelo Comitê dos 40 Anos de Invasão da PUC, em memória à repressão feita pela polícia e sofrida pelos estudantes em 1977. A assembléia contou com a presença de Leonardo Blecher, ex aluno da PUC-SP, Pedro Fassoni, professor da PUC-SP, Cristina Costa, professora da USP, José Arbex, professor da PUC-SP e Fábio Cypriano, professor e coordenador do curso de Jornalismo da PUC-SP.
O evento começou com a exibição do documentário “Feridos pelo Estado” – dirigido pelo ex-aluno de Relações Internacionais da PUC, Leonardo Blecher, em parceria com a TVPuc e a Agência Pública.
O filme conta sobre toda a história do dia 22 de setembro de 1977, data em que 3 mil policiais civis e militares, com apoio de carros blindados, invadiram o campus da PUC-Perdizes. Todos os presentes em frente ao Tuca, teatro da universidade, foram perseguidos e espancados. Funcionários, professores e alunos estavam lá reunidos para reorganizar a União Nacional dos Estudantes (UNE), desarticulada pelos militares em 1968, quando foram surpreendidos com a chegada das tropas comandadas pelo secretário da Segurança Pública de São Paulo, Coronel Erasmo Dias.
O documentário apresenta também depoimentos de dois dos seis alunos que sofreram graves queimaduras de terceiro grau no corpo, além de outras vítimas da repressão policial, como o fotógrafo que se responsabilizou pelas fotos de uma manifestação e encontrou na fotografia maneiras de, segundo ele, resistência e cura.
Após o vídeo, o ex-estudante fez um breve comentário sobre o episódio acontecido e relatou que este resultou na primeira CPI do Brasil. Por este e outros motivos, sente muito orgulho da faculdade em que estudou e agradeceu pela oportunidade de ter estado presente naquele dia e, assim, poder retribuir de alguma forma pelo seu crescimento pessoal dentro da PUC.
Também questionou se realmente houve um rompimento com a ditadura militar, visto que alguns cenários de massacre, como o de pessoas sendo extremamente feridas pela polícia em manifestações contra o governo, estão se repetindo.
“A repressão não acabou, só mudou de cara”, disse a professora da USP e ex-aluna de Ciências Sociais da PUC, Cristina Costa, em resposta a Leonardo, iniciando, assim, seu discurso. Cristina defende que o Brasil possui a cultura da censura, onde as proibições estão em todos os pequenos detalhes. A classificação indicativa, na opinião dela, é uma forma de censura. Não concorda com a ideia de alguém formar sua opinião e começar a analisar criticamente obras de arte, filmes e peças teatrais apenas a partir dos 18 anos, por exemplo.
Opinou também sobre como a ditadura empobreceu a cultura do Brasil:
“Leis de incentivo tiraram o direito de teatros amadores. Acabaram com a dramaturgia brasileira, que dava voz aos que nunca tinham tido. A arte está precisando de espaço”.
Também fez relatos do seu dia a dia e de seus colegas após a invasão na PUC. Desde entrar nas salas de aulas e presenciar encontros até ler determinado tipo de livro – tudo o que eles viviam era baseado em um único sentimento: medo. Finalizou sua fala dizendo que “foi a época de um regime de terror extremamente doloroso, mas que não podemos esquecer”.
Pedro Fassoni, professor de Ciências Políticas da PUC, apresentou brevemente os quadros políticos do Brasil desde o projeto de governo do reformista João Goulart, antes do golpe de 64. Através da História, concluiu que o objetivo da violência policial sempre foi e continua sendo privilegiar a elite, e que nem mesmo os progressistas conseguiram mudar o caráter autoritário do Estado. Deu a deixa, então, para o discurso do professor de Jornalismo, José Arbex.
Emocionado com as atividades culturais que foram e estão sendo realizadas na PUC, relacionadas ao duro período da ditadura, Arbex, assim como os outros palestrantes, relacionou o regime passado com os dias atuais, porém com um foco especial na mídia.
“A mídia não tem censura. Ela é a censura”, disse. Em sua fala, argumentou que censurar é manipular a articulação da linguagem e a forma como são apresentadas as notícias.
Exemplificou de duas formas: a partir do momento em que uma manifestação é noticiada utilizando a palavra “vândalos”, a repressão é legitimada, mascarando as verdadeiras informações. Segundamente, afirmou que quando existe um grande enfoque a uma notícia, é sinal de que outra não está sendo explanada, ou seja, há retenções de divulgações. Acreditando que vivemos em uma “liberdade aparente”, defende que a memória é a melhor maneira de combater a censura, e que por isso julga de extrema importância eventos como este e outros que aconteceram durante a semana do dia 18 a 22 de setembro na PUC, em nome dos 40 anos de invasão à Universidade.
Deborah Fabri, uma das vítimas da violência policial, também estava presente no debate. A estudante, em uma de suas participações na manifestação contra o Impeachment, foi atingida por uma bala de borracha e perdeu a visão do olho esquerdo. Alega com convicção que em nenhum momento se arrepende de ter lutado pelo Brasil, e conseguiu finalizar o debate de uma maneira emocionante e esperançosa:
“Tem gente que é mais cega que eu. Mas nenhuma bomba é capaz de destruir esse laço de resistência que estamos construindo.”
Fonte: Fala Universidades, 25/09/2017
Disponível: http://falauniversidades.com.br/puc-40-anos-invasao-militar-campus-perdizes/
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