Comissão da Verdade entrega relatório final
Após cinco anos de intensa pesquisa, o CEMVDHC apresenta o documento nesta segunda-feira (25), às 15h, no Palácio do Governo
Por: Leonardo Malafaia em 25/09/17 às 07H26, atualizado em 25/09/17 às 07H32
Antônio Henrique Pereira Neto, o padre Antônio. Reconhecido como uma pessoa "inimiga da violência" e “extremamente generoso”. Um homem “inteligente e culto”, que à época, atuava como auxiliar do então arcebispo dom Hélder Câmara, o "Dom da Paz", ou "bispo vermelho", para os favoráveis ao Regime Militar.
Não havia conhecimento de que o sacerdote recebia remuneração pelo trabalho de evangelização, tampouco se tinha coloração partidária. Era, em resumo, “uma boa pessoa”. Na noite do dia 26 de maio de 1969, última vez em que foi visto vivo, após sair de uma reunião com pais e alunos, no Largo do Parnamirim, no Recife, entrou numa Rural Willys verde e branca, acompanhado por dois homens.
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Na manhã do dia seguinte, seu corpo foi encontrado em um matagal, na Cidade Universitária, com marcas de forte tortura e execução. Foram três disparos de arma de fogo, diretos na cabeça. De acordo com os registros, “atiraram na vítima pelo gosto de atirar no corpo humano caído”, uma vez que, de tão ferido pela tortura, bastava apenas um para matá-lo.
Do relato, fica uma questão: mesmo diante de uma vida aparentemente exemplar, por que uma morte tão cruel?
Foram essas e outras perguntas que, desde a sua criação, em 1º de junho de 2012, a Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC), trabalhou para fornecer à sociedade e familiares as respostas. O grupo, após cinco anos de intensa pesquisa, fará a entrega do relatório final das atividades. O documento será, oficialmente, lançado nesta segunda-feira (25), às 15h, durante solenidade no Palácio do Governo, com participação do governador de Pernambuco, Paulo Câmara.
Documento
Ao todo, 51 casos foram investigados. Dentre eles, os emblemáticos do padre Antônio Henrique e o de Natália Alves, brutalmente assassinada e estuprada por agentes do Estado.
O documento, dividido em dois volumes, o primeiro com 405 páginas e o segundo com 442, detalha o perfil das vítimas e as condições das mortes. Além de identificar autores e debruçar sobre documentos, muitos deles classificados como como secretos e confidenciais do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), a fim de obter as conclusões.
“Os resultados são diversos. O trabalho analisou 51 casos de relatoria e apresenta toda a construção histórica da política de Pernambuco e de pernambucanos que foram perseguidos durante o regime da ditadura em Pernambuco ou fora do Estado”, declarou Henrique Mariano, secretário-geral da CEMVDHC e relator da investigação do padre Antônio.
Neste caso em particular, Mariano relata que na versão oficial, “divulgada na época pelo Governo do Estado”, o crime foi classificado como de “motivação comum”. E que desde o ocorrido, em 1969, o inquérito do caso do assassinato de padre Henrique foi arquivado e reaberto inúmeras vezes.
E só após ter a investigação reiniciada pela comissão, “ficou apontada a participação de membros da Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco e a motivação política”.
Henrique Mariano ressalta que o trabalho tem “imenso valor histórico, mas a comissão não tem a prerrogativa de julgar nem processar”, no entanto, “esse relatório será encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF), cabendo ao órgão dar conveniência ou não, entrando com as ações criminais”.
Fonte: Folha Pe, 25/09/2017
Disponível: http://www.folhape.com.br/politica/politica/blog-da-folha/2017/09/25/BLG,4342,7,509,POLITICA,2419-COMISSAO-VERDADE-ENTREGA-RELATORIO-FINAL.aspx
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