Livro aborda relações sindicais entre EUA e Brasil durante a ditadura militar
A influência dos Estados Unidos nos sindicatos brasileiros nas décadas de 1960 e 1970, no contexto do combate ao comunismo na América Latina, é o tema do livro Disseram que voltei americanizado – Relações sindicais Brasil-Estados Unidos na ditadura militar, da historiadora Larissa Rosa Corrêa, publicado pela Editora da Unicamp.
Diferentemente do modelo sindical corporativista predominante no Brasil, nos Estados Unidos prevalecia o contratualismo. Para os norte-americanos, o coporativismo associava-se ao totalitarismo e ao comunismo e, por isso, devia ser combatido – daí o significativo investimento dos Estados Unidos, em associação com os governos ditatoriais militares brasileiros, em ações voltadas para a difusão do ideário contratualista.
Desse modo, entidades como o Instituto Americano para o Desenvolvimento do Sindicalismo Livre (Iadesil), criado pelo governo estadounidense em 1961, no contexto do programa Aliança para o Progresso, atuava em diversas frentes (cursos, palestras, intercâmbios etc.) no Brasil, com o objetivo de formar novas lideranças capazes de implantar e desenvolver o modelo sindical norte-americano no país.
“Essas atividades eram realizadas com o apoio dos setores mais anticomunistas e conservadores do movimento sindical brasileiro”, afirma Larissa no livro, que faz parte da coleção Várias Histórias, coordenada pelo Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (Cecult) da Universidade Estadual de Campinas. Apesar disso, demonstra a historiadora baseando-se numa pesquisa documental com diversos tipos de fontes (documentos oficiais, relatos de viagem, cartas, entrevistas, entre outras), as alianças entre os norte-americanos e os governos militares eram instáveis e mudavam conforme o posicionamento dos dirigentes brasileiros e os interesses dos sindicalistas brasileiros.
Ao tentar “educar” o sindicalismo brasileiro, os representantes do governo estadounidense tiveram de estudar, analisar, considerar e negociar com as aspirações políticas dos generais e dos próprios sindicalista, o que, muitas vezes, levava à necessidade rever suas estratégias e modos de atuação, o que não resultava em um movimento unilataral de difusão do ideário contratualista, nem em uma aceitação passiva deste por parte dos sindicalistas brasileiros.
Embora os militares brasileiros estivessem alinhados com os Estados Unidos, a política trabalhista implantada no pós-1964 gerou perda de direitos aos trabalhadores, mas preservou aspectos essenciais da “herança varguista”, materializada na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), e a Justiça do Trabalho. Paralelamente, aponta a historiadora, apesar de ter sito preservada durante a ditatura, a CLT era utilizada pelos governantes militares como mecanismo de controle de desmobilização do movimento sindical brasileiro.
Nesse sentido, aponta Larissa, o atual debate envolvendo a reforma trabalhista, ao lado da percepção da CLT e da própria Justiça do Trabalho como entraves à “modernização”, remetem a questões que não são novas e a conexões com um período da história recente do país que acreditava-se estar encerrado.
Fonte: DMT em debate, 04/09/2017
Disponível: http://www.dmtemdebate.com.br/livro-aborda-relacoes-sindicais-entre-eua-e-brasil-durante-a-ditadura-militar/
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