O Massacre de Manguinhos em nova edição
Referência para os estudos sobre o impacto da ditadura militar na atividade científica realizada no Brasil, a obra pode ser acessada gratuitamente na internet
Por Edimar Blazina / Publicado em 28 de maio de 2019
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lança nesta terça-feira, 28, nova edição do livro O Massacre de Manguinhos, referência para os estudos sobre o impacto da ditadura militar na atividade científica realizada no Brasil. A publicação, de 1978 (Avenir Editora), retrata um período de perdas para a ciência brasileira, inaugurada pelo golpe militar de 1964, que interrompeu pesquisas e fechou laboratórios, provocando prejuízos irrecuperáveis em coleções biológicas, além da suspensão de colaborações com outros centros de pesquisa e perseguição a cientistas, muitos deles acusados de subversão e corrupção.
Na época, foi imposto à Fiocruz – então Instituto Oswaldo Cruz (IOC), um diretor designado pelo regime e a presença constante de militares no campus, além de os pesquisadores passaram a ter suas atividades controladas e suas verbas de pesquisa cortadas. Em 1º de abril de 1970, sem qualquer prova, dez cientistas do então Instituto Oswaldo Cruz (IOC) foram cassados pela ditadura militar, com base no AI-5. Eles foram impedidos de trabalhar no IOC e em outras instituições federais. Este episódio ficou conhecido como Massacre de Manguinhos, que dá nome à publicação.
A nova edição é ampliada, com textos de pesquisadores que contextualizam o caráter histórico do episódio, fotos e reproduções de jornais da época, num trabalho capitaneado pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz). O livro é o primeiro a ser lançado pela coleção Memória Viva, que busca tornar acessíveis ao público obras de grande relevância acadêmica, mas que se encontravam esgotadas e terá acesso livre em versão digital gratuita pela internet. Acesse aqui a publicação.
Ataques à Fiocruz
No mesmo dia em que a Fiocruz relança Massacre de Manguinhos, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, criticou as pesquisas realizadas pela Fundação. O ministro discordou do resultado de um estudo que envolveu mais de 500 pesquisadores e fez 16 mil entrevistas no chamado “3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira” – uma espécie de censo do consumo de substâncias lícitas e ilícitas no Brasil.
O estudo foi engavetado porque o atual governo não gostou do resultado, que não confirma a existência de uma epidemia de drogas no país. “Eu não confio nas pesquisas da Fiocruz. Se tu falares para as mães desses meninos drogados pelo Brasil que a Fiocruz diz que não tem uma epidemia de drogas , elas vão dar risada. Temos que nos basear em evidências”, disse o ministro ao jornal O Globo.
Fonte: Extra Classe, 28/05/2019
Disponível em: https://www.extraclasse.org.br/cultura/2019/05/o-massacre-de-manguinhos-em-nova-edicao/
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