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História em quadrinhos mostra a jovens as brutalidades da ditadura argentina

Autores esperam conscientizar novas gerações do ocorrido nos porões da Escola de Mecânica da Marinha

 

A dupla de criadores, Juan Carrá e Iñaki Echeverría, posa em frente ao cenário da história narrada na graphic novel Foto: AGUSTIN MARCARIAN / REUTERS 

Reuters
07/05/2019 - 08:00 

 

BUENOS AIRES — Uma nova revista em quadrinhos busca mostrar aos jovens argentinos as barbaridades que ocorreram no emblemático centro clandestino de detenção Esma — que funcionou durante a última ditadura militar argentina — através de uma crônica ilustrada do julgamento dos repressores.

Com o título Esma — sigla da Escola de Mecânica da Marinha — a história foi criada pelo jornalista e escritor Juan Carrá e pelo ilustrador e arquiteto Iñaki Escheverría , e refere-se à unidade da Marinha onde milhares de pessoas foram presas e torturadas durante a ditadura militar, de 1976 a 1983, quando pelo menos 30 mil pessoas desapareceram, segundo órgãos de direitos humanos.

Ilustrada em lápis preto, a história é conduzida pelo personagem de um jornalista que precisa cobrir o julgamento do caso. Fictício, o protagonista é uma espécie de alter ego de Carrá, que fez a cobertura na época.

— Acreditamos que é um livro que pretende contar o que se passou neste lugar às novas gerações — disse, em uma entrevista à Reuters no Museu da Esma, onde ele apresentou a graphic novel ao lado de Echeverría. — A ideia de usar uma linguagem como a da crônica gráfica permite que novas gerações tenham acesso de maneira mais simples, inclusive mais atrativa, os ocorridos na Esma. Queríamos usar nossas formas de contar a história para assegurar que não haja esquecimento do que aconteceu na última ditadura civil-militar.

 

Juan Carrá e Iñaki Echeveria exibem a graphic novel "Esma". Foto: AGUSTIN MARCARIAN / REUTERS

 

O julgamento dos torturadores no caso Esma ocupa um lugar de destaque na história judicial da Argentina devido ao volume de páginas dos arquivos e ao número de vítimas envolvidas, incluindo as freiras francesas Alice Domon e Léonie Duquet, a jovem sueca Dagmar Hagelin e o escritor argentino Rodolfo Walsh.

Herdeiros da ditadura

Um dos principais desafios foi justamente a seleção das histórias que seriam contadas, mas houve uma que despertou empatia imediata. É o caso de uma prisioneira desaparecida que criou na prisão um desenho animado de humor negro. As ilustrações são as únicas presentes na obra que não são de Echeverría.

— O caso de Lelia Bicocca é emocionante. Para mim, o humor é uma demonstração de inteligência do ser humano e é um lugar de resistênica. Ela criou um personagem muito irônico enquanto esteve na Esma. É algo fabuloso e que me move como cartunista — disse Carrá.

Os autores têm cerca de 40 anos e pertecem à geração dos filhos dos detidos desaparecidos. Embora não tenham sido afetados diretamente pela ditadura, ambos cresceram nesse contexto e fazem parte daqueles que saíram às ruas para lutar contra a impunidade e exigir justiça.

— Minha geração é atravessada pela ditadura, e foi educada por ela. Escrever um livro sobre o julgamento da Esma é uma decisão política, então é preciso levar isso a sério — conclui.

 

Juan Carrá e Iñaki Echeverría com a graphic novel. Ao fundo, a fachada do centro clandestino de aprisionamento e tortura. Foto: AGUSTIN MARCARIAN / REUTERS 

 

Fonte: O Globo, 07/05/2019
Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/historia-em-quadrinhos-mostra-jovens-as-brutalidades-da-ditadura-argentina-23645423 

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